A reforma ortográfica começou a vigorar desde o dia primeiro de janeiro e pretende fazer com que pouco mais de 230 milhões de pessoas em oito países que falam o português tenham a escrita unificada, conservando as variadas pronúncias.
A proposta foi apresentada em 1990, mas era necessário que pelo menos três países concordassem com os termos da proposta, o que ocorreu somente em 2006. O Congresso brasileiro aprovou as mudanças em 1995. Mas por que padronizar o português?
O português, segundo estudos, é a quinta língua mais falada no mundo – cerca de 210 milhões de pessoas – e tem duas grafias oficiais, o que dificulta o estabelecimento da língua como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) . A ortografia-padrão facilitará o intercâmbio cultural entre os países que falam português. Livros, inclusive os científicos, e materiais didáticos poderão circular livremente entre os países, sem necessidade de revisão, como já acontece em países que falam espanhol. Além disso, haverá padronização do ensino de português ao redor do mundo.
Existem duas ortografias oficiais da língua portuguesa: a do Brasil e de Portugal. A norma portuguesa é a que serve de referência para o ensino de português em outros países. O vocabulário português contém palavras escritas com consoantes mudas, como Egipto e objecto. Em outras, como indemnizar e facto, as consoantes "a mais" são pronunciadas. Além disso, nas sílabas tônicas seguidas de m e n, o som é aberto. Por exemplo, a palavra econômico (escrita brasileira) é escrita e lida económico em Portugal.Nesta quinta-feira, alguns jornais já circularão respeitando as novas regras. Mas não se assuste com as palavras grafadas de maneira diferente - os brasileiros têm um período de adaptação: até dezembro de 2012, as duas formas vão caminhar em harmonia e as mudanças não poderão eliminar candidatos em vestibulares, concursos e exames escolares.A reforma ortográfica vai modificar cerca de 3 mil verbetes, o equivalente a 5% das palavras reconhecidas oficialmente no idioma português. O alfabeto, hoje com 23 letras, vai engordar. Ficará com 26, com a incorporação definitiva do k, do w e do y, que sempre viveram à margem, mesmo compondo algumas palavras da língua.
Texto do Acordo não deixa claro como ficará a grafia de uma série de palavras
Apesar de escolas, editoras e meios de comunicação já começarem a se adaptar ao novo acordo ortográfico, o texto do Acordo não esclarece a grafia de uma série de palavras.
Segundo a ABL (Academia Brasileira de Letras), a definição só sairá com a publicação de um novo Volp ("Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"). Com a função de registrar a forma oficial de escrever as palavras, o Volp só deve ser publicado em fevereiro, com cerca de 300 mil termos.
"O Volp deveria ter ficado pronto em 2008", afirma José Carlos de Azeredo, doutor em letras pela Universidade Federal do Rio Janeiro e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Os editores já precisavam dele para usá-lo como fonte de orientação", afirma Azeredo, que coordenou o guia "Escrevendo pela Nova Ortografia" (parceria entre a Publifolha e o Instituto Houaiss), que detalha as novas regras. "Isso tem que ser reconhecido como uma falha", diz.
Azeredo conta que sua equipe no Instituto Houaiss enfrentou uma série de problemas por não ter o Volp como base de pesquisa. "Além disso, o texto do Acordo é muito genérico, principalmente em relação ao uso do hífen", afirma.
Na opinião de Azeredo, o Brasil deveria ter feito uma edição limitada do "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa" antes de o Acordo ter entrado em vigor. "Depois, lançaria uma edição maior."
Até mesmo Evanildo Bechara, membro da ABL e considerado a autoridade máxima no Brasil para decidir as possíveis pendências do Acordo, diz que está sujeito a erros. Em entrevista publicada na Folha na última segunda-feira, ele diz: "É claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz".
Dúvidas
Segundo a consultora de língua portuguesa do Grupo Folha, Thaís Nicoleti de Camargo, as principais indefinições estão centradas na aglutinação ou no uso do hífen.
Daí surgem dúvidas como "subumano" ou "sub-humano", "co-habitar" ou "coabitar" e "abrupto" ou "ab-rupto". Quanto ao prefixo "re" (usado em palavras como "reeditar" ou "re-editar"), Thaís afirma que o Acordo não faz menção específica a ele, o que provoca diferentes interpretações.
Outra palavra que vem gerando dúvidas é "para-raios" (que perde o acento diferencial do "pára"). No "Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa", grafa-se "pararraios". Já o "Meu Primeiro Dicionário Houaiss" e o "Minidicionário Houaiss" grafam "para-raios".
O motivo da dúvida é que o Acordo diz que devem ser aglutinadas, sem hífen, as palavras compostas quando "se perdeu, em certa medida, a noção de composição", conceito usado na agora "paraquedas".
Para Thaís, "é provável que a perda da percepção dos elementos constitutivos da palavra "pára-quedas" se deva à existência dos derivados "pára-quedista" e "pára-quedismo". A ausência das palavras "quedista" e "quedismo" na língua favorece o processo natural de aglutinação". "No caso de "pára-raios" e "pára-brisa", isso não ocorre, pois não há derivados", explica ela. Nesses casos, só há a perda do acento diferencial da forma "pára", e não deve ser feita a aglutinação.
A recomendação de Thaís é adotar a grafia antiga apenas em casos de dúvidas causadas pela subjetividade do Acordo, para que a assimilação do novo sistema não seja adiada.
Confira abaixo as mudanças:
Trema – desaparece em todas as palavras
Antes Depois
Freqüente Frequente
lingüiça linguiça
agüentar aguentar
* Fica o acento em nomes como Müller
Acentuação 1 – some o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (as que têm a penúltima sílaba mais forte)
Antes Depois
Européia Europeia
idéia ideia
heróico heroico
apóio apoio
bóia boia
asteróide asteroide
Coréia Coreia
estréia estreia
jóia joia
platéia plateia
paranóia paranoia
jibóia jiboia
assembléia assembleia
* Herói, papéis, troféu mantêm o acento (porque têm a última sílaba mais forte)
Acentuação 2 – some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras paroxítonas
Antes Depois
Baiúca Baiuca
bocaiúva bocaiuva
feiúra feiura
* Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí
Acentuação 3 – some o acento circunflexo das palavras terminadas em êem e ôo (ou ôos)
Antes Depois
Crêem Creem
dêem deem
lêem leem
vêem veem
prevêem preveem
vôo voo
enjôos enjoos
Acentuação 4 – some o acento diferencial
Antes Depois
Pára Para
péla pela
pêlo pelo
pólo polo
pêra pera
côa coa
* Não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode (presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo
Acentuação 5 – some o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar
Antes Depois
Averigúe Averigue
apazigúe apazigue
ele argúi ele argui
enxagúe você enxague você
Observação: as demais regras de acentuação permanecem as mesmas
Hífen – veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos:
Prefixos
Agro, ante, anti, arqui, auto, contra, extra, infra, intra, macro, mega, micro, maxi, mini, semi, sobre, supra, tele, ultra...
Usa hífen
Quando a palavra seguinte começa com h ou com vogal igual à última do prefixo: auto-hipnose, auto-observação, anti-herói, anti-imperalista, micro-ondas, mini-hotel
Não usa hífen
Em todos os demais casos: autorretrato, autossustentável, autoanálise, autocontrole, antirracista, antissocial, antivírus, minidicionário, minissaia, minirreforma, ultrassom
Prefixos
Hiper, inter, super
Usa hífen
Quando a palavra seguinte começa com h ou com r: super-homem, inter-regional
Não usa hífen
Em todos os demais casos: hiperinflação, supersônico
Prefixos
Sub
Usa hífen
Quando a palavra seguinte começa com b, h ou r: sub-base, sub-reino, sub-humano
Não usa hífen
Em todos os demais casos: subsecretário, subeditor
Prefixos
Vice
Usa hífen
Sempre:
vice-rei, vice-presidente
Prefixos
Pan, circum
Usa hífen
Quando a palavra seguinte começa com h, m, n ou vogais: pan-americano, circum-hospitalar
Não usa hífen
Em todos os demais casos: pansexual, circuncisão
(Da redação, com informações do JB Online, Folha e G1)
Fonte:http://www.diariodopara.com.br/noticiafull.php?idnot=22599"
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