sexta-feira, 20 de maio de 2011

AGRESSÓES DO HOMEM, REAÇÕES DA NATUREZA

Nos dias 17, 18 E 19, a Biblioteca "Ana Oliveira", na coordenação da Professora Marly Augusto Moreira, desenvolveu juntamente com as professoras Luzia Reis (Geografia), Francyléia (Língua Portuguesa), Luciana (Sociologia), Semiramis Libonate (História) e Fátima Espineli(Sala de Informática)uma ação pela vida, tendo como centro o tema da Campanha da Fraternidade 2011 - FRATERNIDADE E A VIDA NO PLANETA. A tonica da palestra proferida pela professora Marly foi sobre Ecologia Humana e as turma envolvidas foram 1º ano C, 1º ano D e o 3º ano, do turno da tarde.
Mesmo com o ar condicionado quebrado, os alunos começaram a atividade com alguns minutos de relaxamento escutando o CD "Maravilhoso Mundo da Natureza", logo após fizemos alguns registro das emoções e a palestra. Os alunos também assistiram aos vídeos sobre a CF 2011 e do músico Wilson Melo com a música "Falta Pouco pra Acabar". A professora de Sociologia, Luciana, troxe o vídeo sobre a devastação da natureza, com a música de Luiz Gonzaga "Xote Ecológico". E a professora Francyléa está trabalhando com os alunos na sala de informática desenvolvendo ações sobre a linguagem verbal e não verbal dentro do tema da Ecologia Humana.
As estagiárias do curso de Biologia da Universidade Federal do Pará e da UVA contribuíram com a palestra sobre "A violência do Patrimônio Público".
Agora, os alunos farão trabalhos relacionados com os temas e realizarão no dia 06 de junho uma exposição em comemoração ao Dia do Meio Ambiente.
Confira as fotos:

Professora Marly proferindo palestra sobre Ecologia Humana


Professora Luciana e a música de Luiz Gonzaga


Professora Luciana e a turma do convênio.


1º Ano D compartilhando o texto

1º C

3º Ano

Alunas estagiárias do curso de Biologia

Alunos do 1º C e profª Luzia Reis


Alunos do 1º D


Convênio










domingo, 15 de maio de 2011

DEVEMOS REFLETIR SOBRE A DESCONSTRUÇÃO DA VIOLÊNCIA

Homilia de Dom Erwin Kräutler na Missa da 49ª da AG da CNBB

prelaziadoxingu.com.br

Irmãs e irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo,
Caríssimos irmãos Bispos do Brasil e participantes da Assembleia Geral da CNBB,
O Evangelho de São João não fala em "milagres". Fala em "sinais" e são sete que apresenta 1. A finalidade principal dos sinais é despertar e corroborar a fé em Jesus, o Filho de Deus. Como os sinais, também a Fé é "obra de Deus" (Jo 6,29)! Ela não é imposta, mas requer a decisão pessoal de comprometer-se com Jesus, o Cristo. Há diversas reações ao convite, à "obra de Deus". Em Caná da Galiléia Jesus "manifestou sua glória e os seus discípulos creram nele" (Jo 2,11). Mais tarde, quando multiplica os pães e caminha sobre o mar a resposta já não é tão cristalina e direta como em Caná ou na cura do filho do funcionário real que "creu, ele e todos da sua casa" (Jo 4,53).

Jesus sacia milhares de pessoas (Jo 6,1-15). Na sinagoga de Cafarnaum, explica mais tarde este sinal. Insiste que os discípulos se esforcem "não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna" (v. 27). Não se trata de "espiritualizar" as necessidades elementares da pessoa humana. Como ninguém sobrevive por muito tempo sem comer, assim os discípulos precisam alimentar-se do "Pão da Vida" (v. 48). A afirmação "quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna" (v. 54) gera espanto na sinagoga. São palavras intoleráveis para os ouvidos dos judeus. E a reação não tarda. "Muitos dos seus discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele" (v. 66). Jesus percebe a crise dos Doze e - em tom provocador - exige uma clara tomada de posição, pois crer significa "aceitar" não só a Palavra, mas também o Corpo entregue e o Sangue derramado do Senhor: "Vós também quereis ir embora?" (v. 67). E Simão Pedro faz sua profissão solene de fé: "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras e vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus" (vv. 68-69).

Jesus se refugia para a montanha, porque a multidão, uma vez saciada, quer "proclamá-lo rei" (V. 15). Já é noite. Os discípulos estão no barco e remam penosamente contra a corrente. Aí, Jesus vem ao seu encontro, andando por sobre a água. "Ficaram com medo!" diz o Evangelho. Sim, com medo! O medo, quando invade o coração, gera angústia, abala o nosso ser até os alicerces, faz-nos gritar por socorro. Exatamente nesta situação-limite os discípulos escutam a voz de Jesus que os tranquiliza: "Sou eu. Não tenhais medo!" (v. 20). Crer na presença de Jesus expulsa o medo. Fé e medo são incompatíveis. A fé dá coragem, o medo paralisa. Deus é "Imma nu 'El" - "Deus conosco" (Mt 21,23; Is 7,14). Crer é viver na proximidade de Deus, desfrutar da intimidade com Deus, ter uma experiência viva de Deus. Crer é "andar com Deus" (Gn 5,22.24; Gn 6,9). A Josué, sucessor de Moisés, Deus promete: "Não tenhas medo, não te apavores, pois o Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que andes" (Js 1,9). Noite escura, águas revoltas, ventos impetuosos, tempestade de raios, ondas violentas, pânico a bordo, o barco ameaçando naufragar! Em meio a todo esse pandemônio escutamos a voz do Senhor "Sou eu. Não tenhais medo!" Cessa a fúria do vento, o mar bravio se acalma. O Senhor dissipa a escuridão da noite. A aurora desponta. "Sou eu. Não tenhais medo!" É Páscoa: a Vida venceu a morte! A graça é mais forte do que o pecado. O Amor e a Paz triunfam sobre o ódio e a guerra, exterminam a violência e as injustiças.

Mas, será que é mesmo Páscoa? Rompeu realmente a aurora do dia da Vitória, da Libertação da casa da escravidão? Será que a Páscoa que celebramos não é apenas uma utopia que acalentamos, um sonho que sonhamos? As cruzes não continuam erguidas pelo mundo afora? Não estão presentes em cada esquina, ao longo das estradas, à beira de cada rio, lago ou igarapé de nosso Brasil? Não estão pregados nelas homens e mulheres, considerados "supérfluos", "descartáveis" (cf. DAp 65) porque não se enquadram num sistema que faz do lucro a sua única mola mestra? Não continuam pregados na cruz os indígenas: violentados e assassinados, expulsos ou fraudados de suas terras ancestrais, reduzidos a párias da sociedade, enxotados como animais, tratados como vagabundos de beira de estrada, ou então confinados em verdadeiros currais humanos, sem mínimas condições de sobrevivência física e muito menos cultural? Não estão pregadas nestas cruzes as vítimas do tráfico humano que se alastra pela Amazônia, as meninas e os meninos aliciados e iludidos por redes nacionais e internacionais de prostituição que operam em nosso querido Estado do Pará e outros Estados do norte e nordeste? Não estão condenadas a morrer na cruz milhares de famílias arrancadas de de seus lares, sítios e roças por projetos desenvolvimentistas que ludibriam o povo com as falsas promessas de um plano que acelera a destruição da Amazônia e faz crescer os bolsões da miséria? Que Páscoa podemos celebrar quando ouvimos dia e noite os gritos desesperados de famílias que pranteiam um irmão, uma irmã, o pai, o esposo, o filho assassinados e nada acontece com os criminosos e pistoleiros de aluguel? Que Páscoa celebramos quando vemos o nosso planeta cada vez mais ameaçado de destruição por esta geração perversa que compromete seriamente a vida de seus filhos e netos?

Irmãs e irmãos! A Páscoa ainda não é a festa de nossa chegada ao Reino Definitivo na glória. A Páscoa é a celebração da "passagem". Passagem não é ponto de chegada, é Caminho. E caminhando recordamos que Jesus anda na nossa frente. Ele é o Caminho. Por isso nunca perdemos a esperança de um mundo diferente, justo e fraterno, do Bem Viver. Ao ressuscitar Jesus, Deus deu o seu Sim irrevogável à Vida. Celebrar a Páscoa significa estar pronto para "trabalhar nas obras de Deus" (v. 28). E "a obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou" (v. 29). Crer naquele que o Pai enviou, é comprometer-se com a Vida, é anunciar a Vida onde outros semeiam a morte. Crer é defender a Justiça e o Amor de Deus onde violência e ódio ferem a dignidade e os direitos humanos. Crer é admirar com gratidão o Lar2 que Deus criou para todos nós, cuidar dele e zelar com carinho por ele em vista das gerações que vêm depois de nós.

"Trabalhar nas obras de Deus" não pode ser um empenho superficial. Pressupõe antes uma profunda e entranhada mística, alicerçada no amor radical de Jesus "até o fim"3 (Jo 13,1). É deixar-se traspassar pelo "amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, Senhor nosso" (Ro 8,39), é contemplar o seu Sangue derramado, "que é o amor incorruptível"4 e seu Corpo entregue, alimento que nos sustenta e nos dá coragem enquanto peregrinamos neste mundo. Amém.

Aparecida, 9 de maio de 2011
Erwin Kräutler, Bispo do Xingu

DESCONSTRUÇÃO DA VIOLÊNCIA

QUANDO A DENÚNCIA VIRA VIOLÊNCIA
Dom José Luiz Ascona contra a prostituição infantil no Marajó
Diário do Pará
09-Feb-2009
Seis horas de uma quinta-feira chuvosa no município de Soure, no Marajó. Na principal igreja do município, o bispo Dom Luiz Azcona mantém os olhos fixos numa imagem de Jesus Cristo que fica atrás do altar da igreja. Atrás dele, espalhados nos bancos da capela, estão menos de dez fiéis. Dom Azcona abre uma Bíblia e lê em silêncio durante vários minutos. Depois levanta e vai se preparar para mais uma celebração. Às 6h30, início da cerimônia, já são quase 30 fiéis. Até o final da missa, passarão de 50. É uma celebração normal, a não ser quando chega o momento do sermão de Dom Azcona. Aproveitando que o dia em questão era o dia de Santa Agda, que teria morrido virgem em nome da fé, Dom Luiz Azcona inicia uma pregação virulenta contra a exploração sexual de menores no Marajó.

“As nossas meninas e meninos estão sendo criados como animais de estimação que podem ser comprados e vendidos. Essa é uma realidade totalmente contrária ao que nos ensina Jesus. Quando uma sociedade como a do Pará não tem forças para defender suas crianças e adolescentes, então essa é uma sociedade que não merece viver. Merece morrer, porque não tem mais futuro. Quando uma sociedade fica de braços cruzados na compra e venda de seres humanos, o posicionamento desse grupo faz com que ele deixe de ser humano e se torne menos que animais”.

Ao longo da pregação, Dom Azcona se refere pelo menos três vezes à CPI da Pedofilia que está em andamento em Belém. CPI instalada após uma série de denúncias do bispo sobre essa prática nas comunidades ribeirinhas do Marajó e que vem ganhando, aos poucos, contornos que mostram o envolvimento de pessoas influentes e poderosas no Estado. Segundo o deputado Arnaldo Jordy, relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, mais de mil denúncias já foram feitas. Mesmo que parte delas possa não ser verdadeira, ainda assim é um número expressivo.

Por conta das denúncias, Dom Azcona foi ameaçado de morte. Mudou pouco sua rotina pessoal. Embora não abra mais a igreja todos os dias às 5h, como fazia antes, não deixa de rezar diariamente a missa e nem de atender aos que lhe procuram logo depois da celebração. São pedidos de ajuda espiritual e financeira. Gente que pede apoio e dinheiro.

O bispo também não se furta de ir sempre que pode aos nove municípios do Marajó cujas paróquias estão sob sua responsabilidade. “Depois de meu depoimento à CPI não recebi mais ameaças, mas elas começaram em 2007, quando começamos a trabalhar na detecção da presença do tráfico humano do Marajó para as Guianas. O primeiro alerta me foi dado por um membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, em Brasília. Segundo ele, eu havia passado a fazer parte de uma lista de marcados para morrer”, diz o bispo. Logo depois, Dom Azcona teve a confirmação de que integrava mesmo uma lista de marcados para morrer, junto a mais 15 pessoas. E no dia 9 de dezembro de 2007 a mesma pessoa que lhe alertara sobre as ameaças morreu num misterioso acidente de carro. “Foi esmagado por um caminhão. Disseram que foi um acidente, mas eu tenho certeza de que ele foi assassinado”, acredita.

Se não mudou os hábitos, a possibilidade de ser mais uma vítima mudou sua filosofia de vida. “Não há um dia sequer em que não penso na morte. Esse é um pensamento que se tornou constante. Ao pegar o barco para Breves penso que seria um local fácil para me matarem. Quando estou no interior crismando, dentro daquelas matas e nos rios pequenos, imagino que uma voadeira seria fácil de me alcançar e me eliminar. Penso na morte, mas não estou ansioso ou com medo. É um pensamento que até me enche de satisfação, porque se morrer será pelo Evangelho e isso é uma graça divina”.

Esse é um dos motivos para que recuse proteção pessoal. Dom Azcona não acredita que ela seja realmente eficaz. E também não quer ter sempre uma sombra perto de si. No ano passado foi a Aparecida do Norte para um encontro e sem que soubesse puseram dois homens para cuidar da segurança dele. Estranhou.

Dom Azcona também não consegue se imaginar na pele de Dom Erwin Krautler, bispo do Xingu, que tem sempre um segurança por perto. “O que peço sempre é que Deus não me acovarde, que não me faça voltar atrás. Mas peço também que ele não me faça sentir um super-homem, um herói, mas sim me faça sentir como um cristão que está defendendo a palavra divina”.


Abra o olho: sua filha pode estar no esquema

Há poucas semanas, um homem morreu num acidente de moto em Soure. Seria apenas um acidente fatal, mas por trás dele revela-se um pouco da situação de exploração sexual de adolescentes no município. O homem, casado, estava levando uma garota de 14 anos para a praia do Pesqueiro, para consumar o programa fechado minutos antes. É uma prática comum em Soure e em outros municípios do Marajó, embora às vezes não seja tão explícita assim. À noite, nas ruas pouco movimentadas e escuras de Soure, há um crescente comércio de sexo com menores.

“Elas são agenciadas por um grupo de homossexuais que ficam em duas esquinas das ruas principais daqui de Soure”, diz uma comerciante que separou do marido depois de ter descoberto que ele continuamente fazia uso dos serviços sexuais de garotas de programa de Soure.

O bispo Dom Azcona diz que alguns meses atrás um rapaz foi flagrado em Soure com fotos de menores que seriam prostituídas para turistas estrangeiros. “Também não é incomum que barquinhos levem meninas para hotéis e pousadas para satisfazer aos estrangeiros hospedados”, diz Dom Azcona. Em Salvaterra, há boates e dancings que aceitam a entrada de adolescentes e os programas são agendados e feitos por lá mesmo. Mas também há locais mais escondidos e freqüentados por poucos onde a prostituição é comum. “Gente poderosa está por trás disso”, acusa o bispo.

O HOMEM E O MEIO AMBIENTE

sexta-feira, 6 de maio de 2011

BOM DOMINGO DAS MÃES

As pessoas mais ricas do universo repartem seu tempo e vida, partilhando solidariedade, favores, paz e alegria de viver. O egoísmo, ao contrário, empobrece e apequena qualquer coração humano. A felicidade começa onde terminam os pequenos interesses pessoais.
Padre Roque Schneider, SJ

quinta-feira, 5 de maio de 2011

LEITURA PARA O VESTIBULAR UFPA 2012



PRANTO DE MARIA PARDA (Completo)
e numa coluna à direita o espaço para uma recri/e/ação na medida em que surgir a inspiração ou a oportunidade e/ou o desafio para outros tentarem...
(in OBRAS de GIL VICENTE com revisão e notas de Mendes dos Remédios, Tomo I de III, França Amado Editor, Coimbra, 1907, pp. 384-393).
por que vio as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ella não podia viver sem elle.

(Quase não terá nada a ver com o Auto da Visitação, ou com o Natal, ao não ser quando se refere "Na manhã que Deus nasceu / À hora do nascimento" quando se refere à Rua da Ferraria, mas decidi incluí-lo nesta série pelo aspecto coloquial que, embora nos faltem muitos dados da época, se refere, com certeza, a locais ruas e "tascos" de todos conhecidos, além da referência a uma quantidade de localidades de diversos pontos do país, mais conhecidos pela sua maior ou menor "devoção" à bebida... A coluna da direita fic como desafio a um levantamento de expressões populares (actualizadas?) e a um possível levantamento das "novas" tascas e regiões vinícolas... com possível referência à variedade de mixórdias inventadas desde a famosa e imbatível CocaCola!!! Enfim, uma revista à Portuguesa - "uma Comédia Humana de cenário português" como dizia o Mestre Vitotino Nemésio...
Texto citado da Obra de Gil Vicente Tentativa de "tradução" - adaptação...
Eu so quero prantear
Este mal que a muitos toca;
Que estou já como minhoca
Que puzerão a seccar.
Triste desaventurada
Que tão alta está a canada
Pera mi como as estrellas;
Oh coitadas das guelas!
Oh guelas da coitadas)
Triste desdentada escura,
Quem me trouxe a taes mazelas!
Oh gengivas e arnellas,
Deitae babas de seccura;
Carpi-vos, beiços coitados,
Que já lá vão meus toucados,
E a cinta e a fraldilha ;
Hontem bebi a mantilha,
Que me custou dous cruzados.
Oh Rua de San Gião,
Assi ‘stás da sorte mesma
Como altares de quaresma
E as malvas no verão.
Quem levou teus trinta ramos
E o meu mana bebamos,
Isto a cada bocadinho?
Ó vinho mano, meu vinho,
Que ma ora te gastamos.
O’ travéssa zanguizarra
De Mata-porcos escura,
Como estás de ma ventura,
Sem ramos de barra a barra.
Porque tens já tantos dias
As tuas pipas vazias,
Os toneis postos em pé?
Ou te tornaste Guiné
Ou o barco das enguias.
Triste quem não cega em ver
Nas carnicerias velhas
Muitas sardinhas nas grelhas ;
Mas o demo já de beber.
E agora que estão erguidas
As coitadas doloridas
Das pipas limpas da borra;
Achegou-lhe a paz com porra
De crecerem as medidas.
O’ Rua da Ferraria,
Onde as portas erão mayas,
Como estás cheia de guaias,
Com tanta louça vazia!
Já m’a mim accoteo
Na manhan-que Deos naceo,
A’ hora do nacimento,
Beber alli hum de cento,
Que nunca mais pareceo.
Rua de Cata-que-farás,
Que farei e que farás!
Quando vos vi taes, chorei,
E tornei-me por detras.
Que foi do vosso bom vinho,
E tanto ramo de pinho,
Laranja, papel e cana,
Onde bebemos Joanna
E eu cento e hum cinguinho.
O’ tavernas da Ribeira,
Não vos verá a vós ninguem
Mosquitos, o verão que vem,
Porque sereis areeira.
Triste que sera de mi!
Que ma ora vos eu vi!
Que ma ora me vós Vistes!
Que ma ora me paristes,
Mãe da filha do ruim!
Quem vio nunca toda Alfama
Com quatro ramos cagados,
Os tornos todos quebrados!
O’ bicos de minha mama!
Bem alli ó Sancto Esprito
Ia eu sempre dar no fito
N'hum vinho claro rosete.
Oh meu bem doce palhete,
Quem pudera dar hum grito!
O' triste Rua dos Fornos,
Que foi da vossa verdura!
Agora rua d'amargura
Vos fez a paixão dos tornos.
Quando eu, rua, per vós vou,
Todolos traques que dou
São suspiros de saudade;
Pera vós ventosidade
Naci toda como estou.
Fui-me ó Poço do chão,
Fui-me á praça dos canos;
Carpi-vos, manas e manos,
Que a dezaseis o dão.
O' velhas amarguradas,
Que antre três sete canadas
Sohiamos de beber,
Agora, tristes! remoer
Sete raivas apertadas.
Ó rua da Mouraria,
Quem vos fez matar a sêde
Pela lei de Mafamede
Com a triste d'agua fria?
O' bebedores irmãos,
Que nos presta ser christãos,
Pois nos Deus tirou o vinho?
O' anno triste cainho,
Porque nos fazes pagãos?
Os braços trago cansados
De carpir estas queixadas,
As orelhas engelhadas
De me ouvir tantos brados.
Quero-m'ir ás taverneiras,
Taverneiros, medideiras
Que me dem hua canada,
Sôbre meu rosto fiada,
A pagar lá polas eiras.
Pede fiado á Biscaïnha.
0’ Senhora , Biscaïnha,
Fiae-me canada e meia,
Ou me dae hua candeia,
Que se vai esta alma minha.
Acudi-me dolorida,
Que trago a madre cahida,
E çarra-se-me o gorgomilo:
Emquanto posso engoli-lo,
Soocorei-me minha vida.
Biscaïnha.
Não dou eu vinho fiado,
Ide vós embora, amiga.
Quereis ora que vos diga?
Não tendes isso aviado.
Dizem lá que não he tempo
De pousar o cu ao vento.
Sangrade-vos, Maria Parda;
Agora tem vez a Guarda
E a raia no avento.
A João Cavalleiro, Castilhano.
Devoto João Cavalleiro,
Que pareceis Isaïas,
Dae-me de beber tres dias,
E far-vos-hei meu herdeiro.
Não tenho filhas nem filhos,
Senão canadas e quartilhos;
Tenho enxoval de guarda,
Se herdardes Maria Parda,
Sereis fóra d'empecilhos.
João Cavalleiro.
Amiga, dicen por villa
Un ejemplo de Pelayo,
Que una cosa piensa el bayo
Y otra quien lo ensilla.
Pagad, si quereis beber;
Porque debeis de saber
Que quien su yegua mal pea,
Aunque nunca mas la vea,
Él se la quiso perder.
Vai-se a Branca Leda.
Branca mana, que fazedes?
Meu amor, Deos vos ajude ;
Que estou no ataude,
Se me vós não accorredes.
Fiade-me ora tres meias,
Que ando por casas alheias
Com esta sêde tão viva,
Que ja não acho cativa
Gota de sangue nas veias.
Branca Leda
0lhade, mulher de bem,
Dizem qu'em tempo de figos
Não ha hi nenhuns amigos,
Nem os busque então ninguém,
E diz o exemplo dioso,
Que bem passa de guloso
O que come o que não tem.
Muita agua ha em Boratem
E no poço do tinhoso.
Vai-se a João do Lumiar.
Senhor João do Lumiar,
Lume da minha cegueira,
Esta era a verde pereira
Em que vos eu via estar.
Fiae-me hum gentar de vinho,
E pagar-vos-hei em linho,
Que ja minha lan não presta:
Tenho mandada hua besta
Por elle a antre Douro e Minho.
João do Lumiar.
Exemplo de mulher honrada,
Que nos ninhos d'ora a hum anno
Não ha passaros oganno.
I-vos, que sois aviada.
Emquanto isto assi dura,
Matae coan agua a seccura,
Ou ide a outremm enganar,
Que eu não me hei-de fiar
De mula com matadura.
Indo para casa de Martim Alho, vai dizendo:
Amara aqui hei d'estalar
Nesta manta emburilhada:
Oh Maria Parda coitada,
Que não tens ja que mijar!
Eu não sei que mal foi este,
Peor sem vezes que a peste,
Que quando era o trão e o tramo,
Andava eu de ramo em ramo
Não quero deste, mas deste.
Diz a Martim Alho.
Martim Alho, amigo meu,
Martim Alho meu amigo,
Tão secco trago o embigo
Como nariz de Judeu.
De sêde não sei que faça;
Ou fiado ou de graça,
Mano, soccorrede-me ora,
Que trago ja os olhos fóra
Como rala da negaça.
Martim Alho.
Diz hum verso acostumado:
Quem quer fogo busque a lenha;
E mais seu dono d'acenha
Appella de dar fiado.
Vós quereis, dona, folgar,
E mandais-ane a mim fiar?
Pois diz outro exemplo antigo,
Quem quizer comer comigo
Traga em que se assentar.
Vai-se á Falula.
Amor meu, mana Falula,
Minha gloria e meu deleite,
Emprestae-mne do azeite,
Que se me sécca a matula.
Até que haja dinheiro,
Fiae, que pouco requeiro,
Duas canadas bem puras,
Por não ficar ás escuras.
Que se m'arde o candieiro.
Falula.
Diz Nabucodonosor
No sideraque e miseraque
Aquelle que dá gran traque
Atravesse-o no salvanor.
E diz mais, quem muito pede,
Mana minha, muito fede.
Sete mil custou a pipa;
Se quereis fartar a tripa,
Pagae, que a vinte se mede.
Maria Parda.
Raivou tanto sideraque
E tanta zarzagania.
Vou-me a morrer de sequia
Em cima d'hum almadraque.
E ante de meu finamento,
Ordeno meu testamento
Desta maneira seguinte,
Na triste era de vinte
E dous desde o nacimento.

Testamento.

A minha alma encommendo
A Noé e a outrem não,
E meu corpo enterrarão
Onde estão sempre bebendo.
Leixo por minha herdeira
E tambem testamenteira,
Lianor Mendes d'Arruda,
Que vendeo como sesuda,
Por beber, at'á peneira.
Item mais mando levar
Por tochas cepas de vinha,
E hUa borracha minha
Com que me hajão d'encensar,
Porque teve malvasia.
Encensem-me assi vazia,
Pois tambem eu assi vou;
E a sêde que me matou,
Venha pola cleresia.
Levar-me-hão em hum andor
De dia, ás horas certas
Que estão as portas abertas
Das tavernas per hu for.
E irei, pois mais não pude,
N'hum quarto por ataude,
Que não tivesse agua pé
O sovenite a Noé
Cantem sempre a meude.
Diante irão mui sem pejo
Trinta e seis odres vazios,
Que despejei nestes frios,
Sem nunca matar desejo.
Não digão missas rezadas,
Todas sejão bem cantadas
Em Framengo e Allemão,
Porque estes me levarão
Ás vnhas mais carregadas.
Item dirão per dó meu
Quatro ou cinco ou dez trintairos,
Cantados per taes vigairos,
Que não bebão menos qu'eu.
Sejão destes tres d'Almada,
E cinco daqui da Sé,
Que são filhos de Noé,
A que som encommendada.
Venha todo o sacerdote
A este meu enterramento,
Que tiver tão bom alento,
Como eu tive ca de cote.
Os de Abrantes e Punhete,
D'Arruda e d'Alcouchete,
D'Alhos-Vedros e Barreiro,
Me venhão ca sem dinheiro
Atá cento e vinte e sete.
Item mando vestir logo
O frade allemão vermelho
Daquelle meu manto velho
Que tem buracos de fogo.
Item mais, mais mando dar
A quem se bem embebedar ,
No dia em que eu morrer,
Quanto movel hi houver
E quanta raiz se achar.
Item mando agasalhar,
Das orphans estas nó mans
As que por beber dos paes
Ficão proves por casar.
Ás quaes darão por maridos
Barqueiros bem recozidos
Em vinhos de mui bôs cheiros;
Ou busquem taes escudeiros,
Que bebão coma perdidos.
Item mais me cumprirão
As seguintes romarias,
Com muitas ave-marias,
E não curem de Monção.
Vão por mim a Sancta Orada
D'Atouguia e d'Abrigada,
E a Curageira sancta,
Que me derão na garganta
Saude a peste passada.
Item mais me prometti
Nua á pedra da estrema,
Quando eu tive a postema
No beiço de baixo aqui.
E porque gran gloria senta,
Lancem-me muita agua benta
Nas vinhas de Caparica,
Onde meu desejo fica
E se vai a ferramenta.
Item me levarão mais
Hum gran cirio pascoal
Ao glorioso Seixal,
Senhor dos outros Seixaes;
Sete missas me dirão
E os caliz encherão,
Não me digão missa sêcca;
Porque a dor da enchaqueca
Me fez esta devação.
Item mais mando fazer
Hum espaçoso esprital,
Que quem vier de Madrigal
Tenha onde se acolher.
E do termo d'Alcobaça
Quem vier dem-lhe em que jaça:
E dos termos de Leirea
Dem-lhe pão, vinho e candea,
E cama, tudo de graça.
Os d'Obidos e Santarem,
Se aqui pedirem pousada,
Dem-lhes de tanta pancada
Como de maos vinhos tem.
Homem d'Entre Douro e Minho
Não lhe darão pão nem vinho;
E quem de riba d'Avia for
Fazê-lhe por meu amor
Como se fosse vizinho.
Assi que por me salvar
Fiz este meu testamento,
Com mais siso e entendimento
Que nunca me sei estar.
Chorae todos meu perigo,
Não levo o vinho que digo,
Qu'eu chamava das estrellas,
Agora m'irei par'ellas
Com grande sêde comigo.
Amigos, vamos chorar
E com vigor protestar
contra esta nova cota
de zero - a taxa alcoólica!
Estes novos governantes
não se lembram que já dantes
este vinho que bebemos
fará comer, pelo menos
um milhão de portugueses...!?
Mas a maior desventura
que nos traz mais amargura
é o preço do bom tinto
- e corrijam-me se minto -
nos custa coiro e cabelo...
e barata,
só zurrapa,
dessa que é puro veneno!!!...
E a desgraça mais rara
que custa os olhos da cara
é ver, que em vez das tabernas
onde se bebia bom tinto
prantam em todas as bermas
duma estrada ou avenida
uns bares, umas "boites pimbas"
onde se bebem mistelas
que nos trazem só mazelas...
Na vinte e quatro de Julho
aquilo parece um entrudo...
Aquilo é só chinfrineira...
A bebida é estrangeira...
e com drogas à mistura...
Depois andam à porrada
por dá cá aquela palha...
Vêm os chuis: há pancada!
Todos berram: Ó da Guarda!!!
e fica uma festa armada!!!
"já í stá o balho armado"!!!
... ... ...
Oh Rua de San Gião,
Assi ‘stás da sorte mesma
Como altares de quaresma
E as malvas no verão.
Quem levou teus trinta ramos
E o meu mana bebamos,
Isto a cada bocadinho?
Ó vinho mano, meu vinho,
Que ma ora te gastamos.
O’ travéssa zanguizarra
De Mata-porcos escura,
Como estás de ma ventura,
Sem ramos de barra a barra.
Porque tens já tantos dias
As tuas pipas vazias,
Os toneis postos em pé?
Ou te tornaste Guiné
Ou o barco das enguias.
Triste quem não cega em ver
Nas carnicerias velhas
Muitas sardinhas nas grelhas ;
Mas o demo já de beber.
E agora que estão erguidas
As coitadas doloridas
Das pipas limpas da borra;
Achegou-lhe a paz com porra
De crecerem as medidas.
O’ Rua da Ferraria,
Onde as portas erão mayas,
Como estás cheia de guaias,
Com tanta louça vazia!
Já m’a mim accoteo
Na manhan-que Deos naceo,
A’ hora do nacimento,
Beber alli hum de cento,
Que nunca mais pareceo.
Rua de Cata-que-farás,
Que farei e que farás!
Quando vos vi taes, chorei,
E tornei-me por detras.
Que foi do vosso bom vinho,
E tanto ramo de pinho,
Laranja, papel e cana,
Onde bebemos Joanna
E eu cento e hum cinguinho.
O’ tavernas da Ribeira,
Não vos verá a vós ninguem
Mosquitos, o verão que vem,
Porque sereis areeira.
Triste que sera de mi!
Que ma ora vos eu vi!
Que ma ora me vós Vistes!
Que ma ora me paristes,
Mãe da filha do ruim!
Quem vio nunca toda Alfama
Com quatro ramos cagados,
Os tornos todos quebrados!
O’ bicos de minha mama!
Bem alli ó Sancto Esprito
Ia eu sempre dar no fito
N'hum vinho claro rosete.
Oh meu bem doce palhete,
Quem pudera dar hum grito!
O' triste Rua dos Fornos,
Que foi da vossa verdura!
Agora rua d'amargura
Vos fez a paixão dos tornos.
Quando eu, rua, per vós vou,
Todolos traques que dou
São suspiros de saudade;
Pera vós ventosidade
Naci toda como estou.
Fui-me ó Poço do chão,
Fui-me á praça dos canos;
Carpi-vos, manas e manos,
Que a dezaseis o dão.
O' velhas amarguradas,
Que antre três sete canadas
Sohiamos de beber,
Agora, tristes! remoer
Sete raivas apertadas.
Ó rua da Mouraria,
Quem vos fez matar a sêde
Pela lei de Mafamede
Com a triste d'agua fria?
O' bebedores irmãos,
Que nos presta ser christãos,
Pois nos Deus tirou o vinho?
O' anno triste cainho,
Porque nos fazes pagãos?
Os braços trago cansados
De carpir estas queixadas,
As orelhas engelhadas
De me ouvir tantos brados.
Quero-m'ir ás taverneiras,
Taverneiros, medideiras
Que me dem hua canada,
Sôbre meu rosto fiada,
A pagar lá polas eiras.
Pede fiado á Biscaïnha.
0’ Senhora , Biscaïnha,
Fiae-me canada e meia,
Ou me dae hua candeia,
Que se vai esta alma minha.
Acudi-me dolorida,
Que trago a madre cahida,
E çarra-se-me o gorgomilo:
Emquanto posso engoli-lo,
Soocorei-me minha vida.
Biscaïnha.
Não dou eu vinho fiado,
Ide vós embora, amiga.
Quereis ora que vos diga?
Não tendes isso aviado.
Dizem lá que não he tempo
De pousar o cu ao vento.
Sangrade-vos, Maria Parda;
Agora tem vez a Guarda
E a raia no avento.
A João Cavalleiro, Castilhano.
Devoto João Cavalleiro,
Que pareceis Isaïas,
Dae-me de beber tres dias,
E far-vos-hei meu herdeiro.
Não tenho filhas nem filhos,
Senão canadas e quartilhos;
Tenho enxoval de guarda,
Se herdardes Maria Parda,
Sereis fóra d'empecilhos.
João Cavalleiro.
Amiga, dicen por villa
Un ejemplo de Pelayo,
Que una cosa piensa el bayo
Y otra quien lo ensilla.
Pagad, si quereis beber;
Porque debeis de saber
Que quien su yegua mal pea,
Aunque nunca mas la vea,
Él se la quiso perder.
Vai-se a Branca Leda.
Branca mana, que fazedes?
Meu amor, Deos vos ajude ;
Que estou no ataude,
Se me vós não accorredes.
Fiade-me ora tres meias,
Que ando por casas alheias
Com esta sêde tão viva,
Que ja não acho cativa
Gota de sangue nas veias.
Branca Leda
0lhade, mulher de bem,
Dizem qu'em tempo de figos
Não ha hi nenhuns amigos,
Nem os busque então ninguém,
E diz o exemplo dioso,
Que bem passa de guloso
O que come o que não tem.
Muita agua ha em Boratem
E no poço do tinhoso.
Vai-se a João do Lumiar.
Senhor João do Lumiar,
Lume da minha cegueira,
Esta era a verde pereira
Em que vos eu via estar.
Fiae-me hum gentar de vinho,
E pagar-vos-hei em linho,
Que ja minha lan não presta:
Tenho mandada hua besta
Por elle a antre Douro e Minho.
João do Lumiar.
Exemplo de mulher honrada,
Que nos ninhos d'ora a hum anno
Não ha passaros oganno.
I-vos, que sois aviada.
Emquanto isto assi dura,
Matae coan agua a seccura,
Ou ide a outremm enganar,
Que eu não me hei-de fiar
De mula com matadura.
Indo para casa de Martim Alho, vai dizendo:
Amara aqui hei d'estalar
Nesta manta emburilhada:
Oh Maria Parda coitada,
Que não tens ja que mijar!
Eu não sei que mal foi este,
Peor sem vezes que a peste,
Que quando era o trão e o tramo,
Andava eu de ramo em ramo
Não quero deste, mas deste.
Diz a Martim Alho.
Martim Alho, amigo meu,
Martim Alho meu amigo,
Tão secco trago o embigo
Como nariz de Judeu.
De sêde não sei que faça;
Ou fiado ou de graça,
Mano, soccorrede-me ora,
Que trago ja os olhos fóra
Como rala da negaça.
Martim Alho.
Diz hum verso acostumado:
Quem quer fogo busque a lenha;
E mais seu dono d'acenha
Appella de dar fiado.
Vós quereis, dona, folgar,
E mandais-ane a mim fiar?
Pois diz outro exemplo antigo,
Quem quizer comer comigo
Traga em que se assentar.
Vai-se á Falula.
Amor meu, mana Falula,
Minha gloria e meu deleite,
Emprestae-mne do azeite,
Que se me sécca a matula.
Até que haja dinheiro,
Fiae, que pouco requeiro,
Duas canadas bem puras,
Por não ficar ás escuras.
Que se m'arde o candieiro.
Falula.
Diz Nabucodonosor
No sideraque e miseraque
Aquelle que dá gran traque
Atravesse-o no salvanor.
E diz mais, quem muito pede,
Mana minha, muito fede.
Sete mil custou a pipa;
Se quereis fartar a tripa,
Pagae, que a vinte se mede.
Maria Parda.
Raivou tanto sideraque
E tanta zarzagania.
Vou-me a morrer de sequia
Em cima d'hum almadraque.
E ante de meu finamento,
Ordeno meu testamento
Desta maneira seguinte,
Na triste era de vinte
E dous desde o nacimento.

Testamento.

A minha alma encommendo
A Noé e a outrem não,
E meu corpo enterrarão
Onde estão sempre bebendo.
Leixo por minha herdeira
E tambem testamenteira,
Lianor Mendes d'Arruda,
Que vendeo como sesuda,
Por beber, at'á peneira.
Item mais mando levar
Por tochas cepas de vinha,
E hUa borracha minha
Com que me hajão d'encensar,
Porque teve malvasia.
Encensem-me assi vazia,
Pois tambem eu assi vou;
E a sêde que me matou,
Venha pola cleresia.
Levar-me-hão em hum andor
De dia, ás horas certas
Que estão as portas abertas
Das tavernas per hu for.
E irei, pois mais não pude,
N'hum quarto por ataude,
Que não tivesse agua pé
O sovenite a Noé
Cantem sempre a meude.
Diante irão mui sem pejo
Trinta e seis odres vazios,
Que despejei nestes frios,
Sem nunca matar desejo.
Não digão missas rezadas,
Todas sejão bem cantadas
Em Framengo e Allemão,
Porque estes me levarão
Ás vnhas mais carregadas.
Item dirão per dó meu
Quatro ou cinco ou dez trintairos,
Cantados per taes vigairos,
Que não bebão menos qu'eu.
Sejão destes tres d'Almada,
E cinco daqui da Sé,
Que são filhos de Noé,
A que som encommendada.
Venha todo o sacerdote
A este meu enterramento,
Que tiver tão bom alento,
Como eu tive ca de cote.
Os de Abrantes e Punhete,
D'Arruda e d'Alcouchete,
D'Alhos-Vedros e Barreiro,
Me venhão ca sem dinheiro
Atá cento e vinte e sete.
Item mando vestir logo
O frade allemão vermelho
Daquelle meu manto velho
Que tem buracos de fogo.
Item mais, mais mando dar
A quem se bem embebedar ,
No dia em que eu morrer,
Quanto movel hi houver
E quanta raiz se achar.
Item mando agasalhar,
Das orphans estas nó mans
As que por beber dos paes
Ficão proves por casar.
Ás quaes darão por maridos
Barqueiros bem recozidos
Em vinhos de mui bôs cheiros;
Ou busquem taes escudeiros,
Que bebão coma perdidos.
Item mais me cumprirão
As seguintes romarias,
Com muitas ave-marias,
E não curem de Monção.
Vão por mim a Sancta Orada
D'Atouguia e d'Abrigada,
E a Curageira sancta,
Que me derão na garganta
Saude a peste passada.
Item mais me prometti
Nua á pedra da estrema,
Quando eu tive a postema
No beiço de baixo aqui.
E porque gran gloria senta,
Lancem-me muita agua benta
Nas vinhas de Caparica,
Onde meu desejo fica
E se vai a ferramenta.
Item me levarão mais
Hum gran cirio pascoal
Ao glorioso Seixal,
Senhor dos outros Seixaes;
Sete missas me dirão
E os caliz encherão,
Não me digão missa sêcca;
Porque a dor da enchaqueca
Me fez esta devação.
Item mais mando fazer
Hum espaçoso esprital,
Que quem vier de Madrigal
Tenha onde se acolher.
E do termo d'Alcobaça
Quem vier dem-lhe em que jaça:
E dos termos de Leirea
Dem-lhe pão, vinho e candea,
E cama, tudo de graça.
Os d'Obidos e Santarem,
Se aqui pedirem pousada,
Dem-lhes de tanta pancada
Como de maos vinhos tem.
Homem d'Entre Douro e Minho
Não lhe darão pão nem vinho;
E quem de riba d'Avia for
Fazê-lhe por meu amor
Como se fosse vizinho.
Assi que por me salvar
Fiz este meu testamento,
Com mais siso e entendimento
Que nunca me sei estar.
Chorae todos meu perigo,
Não levo o vinho que digo,
Qu'eu chamava das estrellas,
Agora m'irei par'ellas
Com grande sêde comigo.

Fonte: http://www.joraga.net/gilvicente/pags/pranto.htm

quarta-feira, 4 de maio de 2011

TEXTO DA SEMANA

O QUE É, AFINAL, A VIDA?

Num lindo dia de sol, por volta do meio dia, fez-se grande silêncio na orla da mata. Os passarinhos haviam escondido suas cabecinhas sob as asas, e tudo descansava.

Foi quando o Bem-te-vi espiou por entre as folhagens da árvore e perguntou: "O que é, afinal, a vida?"

Todos se surpreenderam com esta pergunta difícil. O Bem-te-vi deixou o seu galho, deu uma grande volta pelo campo e voltou, em seguida, ao seu lugar, à sombra da árvore.

Uma Roseira, à beira do caminho, estava, nesse momento, abrindo um botão. Desenrolando uma pétala após outra, dizia: "A vida é só alegria e brilho".

Por entre o gramado denso, uma Formiga carregava uma haste dez vezes mais longa do que ela própria. Numa parada para descanso, disse: "A vida não é mais do que trabalho e cansaço".

Uma Abelha, voltando de sua excursão pelo campo, carregadinha de néctar, observou: "A vida é um misto de trabalho e prazer".
Ouvindo estas reflexões sábias, o Botão não pôde deixar de dar seu palpite: "A vida? A vida é uma luta no escuro".

Quase teria dado briga entre os animais, se não tivesse começado a chover. E a Chuva dizia: "A vida consiste de lágrimas, só lágrimas".

E a Chuva seguia adiante, para o mar; aí as Ondas se jogavam com toda a força contra a rocha e gemiam. "A vida é uma luta constante e sem êxito por liberdade".

Muito alto, no céu, uma Águia perfazia círculos majestosos, ela exultava: "A vida é um esforço para subir".

Não muito longe da margem, estava uma Árvore; já curvada pela tempestade, disse: "A vida é inclinar-se sob uma força maior".
Então veio a noite, silenciosamente. Uma Coruja deslizava pelo campo, em direção à mata, e disse: "A vida é aproveitar as oportunidades, enquanto outros dormem."

Finalmente, o silêncio cobriu o campo e a mata, após algum tempo. Chegou um jovem e caiu na relva, cansado de dançar e beber: "A vida é uma busca constante de felicidade e uma longa corrente de decepções".

De repente, a Aurora se levantou, em todo o seu esplendor, e disse: "Assim como o dia é um instante na vida, assim a vida é um instante da Eternidade".

"Há quem diga que a vida da gente é um nada no mundo.
É uma gota, é um tempo, que nem dá um segundo.
Há quem fale que é um divino mistério profundo.
É um sopro do criador, numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer.
Ele diz que a vida é viver"

(Gonzaguinha)

Texto do livro Viver e Conviver
Canísio Mayer

Meio Ambiente

Desequilíbrios Ecológicos
Por: Eliene Percília
Em busca de seu próprio conforto e de aperfeiçoamento da tecnologia, há muito tempo o homem vem promovendo modificações no ambiente, prejudicando o ecossistema do qual ele faz parte. O aperfeiçoamento tecnológico, industrial e científico, nos últimos tempos, tem provocado drásticas alterações na atmosfera, na água de mares, lagos, rios, e no solo. Além do mais, provocou desequilíbrio nas cadeias alimentares. Levando a extinção de certos componentes da cadeia alimentar, com isso provocou o aumento numérico de espécies de níveis tróficos mais inferiores produzindo efeitos muito desagradáveis.

• Poluição ambiental

Nem todo desequilíbrio ecológico é produzido pelo homem, como por exemplo, os incêndios acidentais provocados por raios devastando áreas florestais, no entanto, o homem é o maior causador de tais desequilíbrios. Dentre eles, o de importância maior, que é a poluição do ambiente.

• Poluição da água

Os principais poluentes da água são: lançamento de esgoto, detergentes, resíduos industriais e agrícolas e petróleo nos rios.

• Poluição atmosférica

Os poluentes encontrados no ar, principalmente das cidades industrializadas, são: monóxidos de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), fração particulada, óxido de nitrogênio (NO2) e óxido de enxofre (SO2).

• Inversão térmica

A camada de ar próxima à superfície do globo terrestre é mais quente. Sendo menos densa ela sobe e à medida que atinge alturas maiores vai esfriando. Com o movimento do ar as partículas sofrem dispersão. No inverno pode ocorrer inversão térmica, ou seja, nas camadas próximas ao solo fica o ar frio e acima dessa camada, o ar quente. Os poluentes liberados na camada de ar frio estacionam.

• Poluição radioativa

A poluição radioativa aumenta a taxa de mutação, uma de suas maiores conseqüências é o surgimento de variados tipos de câncer, alguns com cura desconhecida.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

EXPOSIÇÃO - FINAL DO TRABALHO

29 de abril, foi um dia bastante agitado na Bilioteca Escolar,porque recebemos a visitar dos alunos e professores para apreciarem a exposição final do projeto: Monteiro Lobato - O Maravilhoso Mundo da Leitura.
Cerca de trezentos alunos visitaram a Biblioteca durante a manhã e a tarde.
Os professores também estiveram acompanhando as turmas e trocaram ideias a respeito das obras de Monteiro Lobato.
Confira as fotos de nossos alunos:

Professora Aurélia Vasco e a turma 601






Os alunos assistiram ao vídeo sobre Monteiro Lobato




Professora Aurélia Vasco


Turma comemorando o sucesso da exposição


turma 502(tarde)


Em pé, professora Semiramis, História,estagiários e a turma 803


Professores Ocimar (Literatura), Rodrigo (Biologia), Olindina (Biblioteca)e Marly (Biblioteca)



Turma 802

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Nós agradecemos a colaboração da Professora Aurélia Vasco.O projeto foi um sucesso!